sábado, 21 de agosto de 2010

112

Cruzmaltinos desse planeta,

é muito fácil homenagear um herói de uma só glória. É mole enaltecer o clube de uma só estrela. Basta falar de um tal mané das pernas tortas. Falar dos granfinos-pão-com-ovo é mole também: meia dúzia de linhas a respeito da taça olímpica, ou de algum quase título, como o da libertadores de 2008. Mesmo a mulambada é de fácil aplauso: você cita alguma coisa sobre a década que eles ficaram por cima da carne seca por conta de um tal franguinho do subúrbio e tá mais do que bom. No entanto, quando se quer fazer justiça com alguém que foi heróico e glorioso repetidas vezes ao longo de sua longa história, a tarefa torna-se árdua. Corremos o risco de pecar pela omissão, de deixar de fora o essencial, de esquecer o inesquecível. Falar dos 112 anos do Vasco é uma dessas missões hercúleas. Me sinto pequeno pra falar disso, mas humildemente tomo pra mim a incumbência na certeza de que será falha, porém feita com todo o peito.
Podemos começar no 21 de agosto de 1898, quando um grupo de imigrantes portugueses decidiram remar contra a maré e fundar seu próprio club, se opondo ao pensamento vigente de que o desporto era uma prática exclusiva das elites. Ou no ano de 1923, quando um time de mulatos e pobres conquistou seu primeiro campeonato carioca de futebol (modalidade que começou a ser praticada pelos vascaínos menos de uma década antes).


Ou ainda, no ano seguinte, quando bravamente nos protegemos do preconceito dos esnobes e lançamos o manifesto contra o racismo? Quando nos unimos e construímos o maior estádio do país até então, em 27? O título de 29, que nos levou à Europa para encantar portugueses e espanhóis pela primeira vez? Talvez nos anos 30, quando a máquina dos Camisas Negras, de Leônidas, Fausto e Domingos da Guia, seguiu conquistando títulos?


Que tal os míticos anos 40, quando o Expresso da Vitória conquistou o primeiro título internacional de um club de futebol brasileiro, ao nos tornarmos os primeiros campeões da América, em 48, no Chile? Ainda poderiamos enaltecer nossa generosidade, ao garantir, em 1949, o único título da carreiro do ídolo da cachorrada Heleno de Freitas... Não, não convém jogar na cara o tamanho minúsculo do time de General Severiano...


A década de 50 talvez seja a ideal. Ganhamos 4 dos 10 títulos cariocas disputados, ainda fomos à Europa desbancar a fama de maior time do mundo de um tal de Real Madrid. Eles tinham Kopa, Di Stéfano e até o Generalíssimo Franco de seu lado, mas quem poderia superar o escrete cruzmaltino? Se não temos um troféu da taça jipe em nossa galeria, temos a certeza de termos batido aquele que é considerado um dos maiores times da história.
Mesmo os tenebrosos anos 60, marcados por um Brasil que estava de cabeça pra baixo, tanto politicamente, quanto no futebol, não passaram em branco. Tá certo, foi só uma Rio-São Paulo, mas já é mais do que muito time que se diz grande por aí... Mas acho que não é o melhor momento pra se falar do Gigante...

Os anos 70 trouxeram os títulos de volta. Mesmo que não tivéssemos conquistado nada, valeria pelo surgimento de Roberto, o Garoto Dinamite, um dos maiores ídolos do esporte bretão. Mas, além disso, ainda levamos dois cariocas e fomos o primeiro time do Rio de Janeiro a conquistar o Campeonato Brasileiro de futebol, batendo os imbatíveis Santos de Pelé, Internacional de Figueroa e Cruzeiro de Nelinho e Dirceu Lopes. Só essas partidas finais já dariam assunto pra escrever um livro. Depois delas, o tal rei do futebol até se mandou pros EUA...


A década de 80 marcou o surgimento do baixinho mais marrento de todos os tempos. Romário apareceu como um cometa, e antes de nos deixar rumo a Europa, nos trouxe títulos cariocas de 87 e 88. Em 89, sem o Baixinho, mas com Bebeto, fomos bicampeões brasileiros em cima do São Paulo, em pleno Morumbi.


Os 90 são covardia. Em uma só década ganhamos mais quatro cariocas, um brasileiro e conquistamos mais uma vez a América. Nos últimos dias do ano 2000, ainda protagonizamos um dos maiores jogos de todos os tempos, a virada do século, a final da Copa Mercosul de 2000.


Se os últimos 10 anos não foram brilhantes, não podemos esquecer que começamos a década levantando a taça. O Brasileirão de 2000 só terminou em 18 de janeiro de 2001. Ganhamos um carioca em 2003, vivemos momentos tristes mas superamos, e chegamos a hoje, 21 de agosto de 2010, de cabeça erguida, com a certeza de que pode até haver instituição esportiva com história semelhante à nossa, mas nenhum superior.

Faltou falar de muita coisa. É demais pra um só. Ainda bem que não sou só um. Somos uma imensa torcida bem feliz. Que venham mais 112 anos iguais aos que passaram. Pra desespero dos rivais.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O Fluminense vive!

Dia desses me peguei lembrando daquele elenco do Fluminense que tinha Carlinhos Itaberá com ícone de uma geração que não ganhou nada. Na época de colégio eu também era chamado de Carlinhos Itaberá. Tudo porque eu jogava como lateral direito e era o único tricolor no time da escola. Mas garanto que meus cruzamentos eram mais precisos. E posso dizer que, como jogador, me transformei num jornalista razoável. Já Itaberá foi um dos piores laterais da história recente do Fluminense. Porém, os dias são outros. Hoje temos elenco. Temos um técnico de ponta. E o mais importante, temos torcida.

Nessa minha primeira postagem não quero falar sobre Conca, Deco, Emerson, Mariano, Fred, Washington... quero homenagear a mais fascinante e espetacular torcida do país. E isso não tem nada a ver com o jogo de domingo, contra o Internacional, quando colocamos quase 60 mil pessoas no Maracanã. Refiro-me ao torcedor que desde a queda pra Série C, em 1999, não cansa de acreditar na recuperação desse ente tão querido chamado Fluminense. É como aquele paciente que está em coma na Unidade de Terapia Intensiva e os parentes insistem em não deixar o hospital enquanto o médico não der a alta. A boa notícia, tricolores, é que o doutor já avisou que o doente está pronto para voltar pra casa. A fé, o apoio e as orações de todos os tricolores deram certo.


O Fluminense vive! O Fluminense, somos todos nós que nesses últimos onze anos gritamos, cantamos, choramos e acreditamos que um dia tudo iria voltar a ser como nos tempos de Castilho, de Pinheiro, de Telê, de Rivelino, de Romerito e tantos outros.


O Fluminense de hoje só existe porque cada um de nós deu sua contribuição. Seja rezando em casa, seja berrando nas arquibancadas dos estádios, seja apenas tirando a camisa da gaveta e mostrando ao Mundo que somos tricolores.


Ainda faltam muitas rodadas para o fim desse Brasileirão. Mas de uma coisa eu já sei. Esse Fluminense é o Fluminense que eu sempre sonhei ver. E como diria uma musiquinha antiga, dos tempos do Casal 20, “graças a Deus eu nasci foi tricolor”.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Para o bem do Rio

Caríssimos tricolores, inicio o post pedindo desculpas, mais uma vez, pela ausência nas últimas semanas. Confesso que a iminente saída de Muricy naquela manhã de sexta-feira mexeu com minha imaginação. Conspirólogo como poucos, criei várias versões para o ocorrido e nenhuma delas me parece convincente. Há algo implícito nessa questão, como sempre ocorreu no futebol. Numa tsunami de acertos, o universo parece conspirar a favor do único tricolor do mundo.

Vejo com bons olhos a ascensão do ludopédio carioca frente aos sempremalas paulistas do brejo. Flamengo venceu a série A, Vasco a série B, Flu bateu na trave em decisões sulamericanas por dois anos consecutivos. Hoje, lideramos com tranquilidade, e nossos rivais estão bem colocados na tabela. A velha ordem do futebol pode retornar em breve, para o bem de todos do Rio.

(Foto: Rodrigo Benchimol / Globoesporte.com)

Quanto à liderança, um grande passo para fazer todo o Brasileirão tranquilo. Das diferenças na tabela, surge uma competição especial para cada escrete. Nós brigamos pela regularidade, outros precisam arrancar para ter chances de título ou Libertadores, e ainda exitem os retardatários que, como nós em 2009, precisariam de um milagre para não descer um andar. E a torcida do Fluzão sabe disso. De antemão, digo que ninguém vai ver tricolor dando volta olímpica ou dizendo que a fatura está liquidada antes da hora. Isso caracteriza botafoguense.

Fora do gramado, o Fluminense também cresce. Nossa torcida na cidade maravilhosa aumentou nos últimos anos e, nas arquibancadas, reina soberana há algumas temporadas. A partir de agora, dificilmente nosso esquadrão jogará desamparado em seus domínios. Incentivo não vai faltar. A Libertadores 2011 caminha para Álvaro Chaves, em pedido de perdão de todos os deuses do futebol, diante da crueldade daquele 2 de julho.

Saudações tricolores, em especial ao amigo Rodrigo Tardin, aniversariante do dia.