quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Os 300 de Muricy


Só mesmo um Time de Guerreiros para superar tantas adversidades, tantos obstáculos, tantas tormentas e ainda permanecer praticamente intocável na liderança de um campeonato difícil e equilibrado, como é o Brasileirão. O que os valentes tricolores tem feito ao longo desta jornada me faz lembrar da histórica batalha das Termópilas, travada durante a II Guerra Médica. Isso foi no Verão de 480 a.C, no desfiladeiro das Termópilas, na Grécia Central. Foi nesta época que 300 espartanos sob o comando de seu rei Leónidas, enfrentaram centenas de milhares de persas liderados por Xerxes, filho de Dario.

Naquele tempo, mesmo sabendo de suas limitações numéricas em relação ao adversário, Leónidas enfrentou os persas como se tivesse o mesmo número de guerreiros ao seu lado. Perdeu a batalha, mas derrubou milhares de inimigos e foi decisivo para a salvação de Atenas e, por conseguinte, da nascente Civilização Ocidental.

Agora, Muricy Ramalho faz o papel de Leónidas, o líder de um grupo incansável e predestinado. Um grupo que disputa cada jogada como se aquela fosse a última e decisiva peleja. Sim amigos, estamos diante de guerreiros verdadeiramente tricolores. A cada novo embate, perdemos peças valiosas. Mas nunca caímos porque sempre surge um novo herói.

Na batalha do Beira-Rio, Ricardo Berna parecia ter ganho asas de uma águia e a agilidade de um leopardo. Obra dos Deuses dos futebol. Berna voou em bolas indefensáveis e foi buscar no cantinho chutes impossíveis. Parecia o imortal Castilho com sua habitual leiteria, com uma sorte invejável. Ricardo Berna fez o que se espera de um goleiro. Evitou uma derrota quase certa e conquistou praticamente sozinho um ponto precioso na briga pelo título. Os 300 espartanos de Muricy derrubaram mais alguns milhares de persas nesta jornada.

Agora faltam apenas cinco inimigos pela frente. E com o retorno de nossos maiores guerreiros, Fred, Emerson e Deco, não haverá ninguém capaz de evitar nosso triúnfo.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Os sonhos não morrem


Era ainda um pré-adolescente, com algumas espinhas na cara, quando dei meu primeiro beijo. Eu tinha 12 anos. Foi só um estalinho numa garota chamada Juliana, na pracinha de Eugenópolis. Isso foi em janeiro de 1989. Nesse mesmo dia, o Fluminense decidiria com o Vasco uma vaga nas semifinais da Copa União de 88, que havia tido sua fase final adiada. O Flu jogava pelo empate porque vencera a primeira partida por 1 a 0, gol de Zé do Carmo, contra. E foi um jogão. O tricolor saiu na frente com um golaço de Donizete. Mas o Vasco empatou e depois virou, com um gol nos acréscimos. O resultado levou a decisão da vaga para a prorrogação. Meu Deus, que sofrimento. Até que no primeiro minuto da etapa final do tempo extra, um tal de Zé Maria, que eu nunca mais ouviria falar, colocou o Flusão em vantagem. E no finalzinho, Washington, o verdadeiro, encobriu Acácio e levou o Fluminense para as semifinais. Naquele dia, dei meu primeiro beijo e sonhei pela primeira vez com o meu tricolor campeão brasileiro.
Pra quem não conhece a história, o Flu não chegou nem à final daquele campeonato. Foi eliminado pelo Bahia, que acabaria campeão. Foi minha primeira grande tristeza no futebol.
Nossa, mas o tempo passa muito rápido. Já estou na casa dos 30 anos e ainda não vi o Flu campeão brasileiro. Nesse tempo, tive algumas namoradas, me casei, tive duas filhas, me divorciei, fiz duas faculdades, operei o coração por duas vezes, meu pai faleceu e o Fluminense… bom, o Fluminense vocês já sabem.
Eu poderia ter me divorciado do Fluminense também. Me daria menos dor de cabeça. Poderia fazer de conta que ele morreu. Ficaria só a saudade. Mas não, me recuso a abandonar o pavilhão tricolor. Sinto como se esse clube fizesse parte do meu corpo. É como um órgão vital. Se ele parar, eu paro junto. Eu respiro Fluminense, eu vivo Fluminense… sou viciado no Fluminense.
Decepções como a da Copa União de 88 se repetiram ao longo desses anos. E nem estou falando dos três rebaixamentos seguidos. Falo de 1991, na derrota para o Bragantino no Maracanã. Na eliminação humilhante de 95, para o Santos. Nas derrotas para São Caetano, Atlético Paranaense e Corinthians em 2000, 2001 e 2002. E nas tristes decisões de Libertadores e Sul-Americana para a LDU, em 2008 e 2009. Por tudo o que já passamos, merecemos o Brasileiro desse ano mais do que nenhuma outra torcida. Não que sejamos melhores que os outros, não me entendam mal. É apenas uma questão de justiça. Já estivemos tão perto, tantas vezes e nada. Chegou a hora, torcida tricolor. São seis jogos para o paraíso. Nelson Rodrigues diria nesse momento que “uma torcida vive e influe no destino das batalhas pela força do sentimento. E a torcida tricolor leva com enorme paixão sua presença para dentro dos gramados. Quando o Fluminense precisa de um milagre, os tricolores vivos, os doentes e os mortos aparecem. Os vivos saem de suas casas, os doentes de suas camas e os mortos de suas tumbas”. Portanto, o que são seis jogos para quem esperou a vida toda? Esse é o nosso momento e ninguém vai nos tirar essa taça.
Ainda parafraseando Nelson Rodrigues, “o Fluminense nasceu com a vocação da eternidade e quando se fala em eternidade e Fluminense, os milagres acontecem”.