sexta-feira, 9 de julho de 2010

Um caminho esclarecedor

Vamos ter fé! O barraco está deslizando, neguinho está pulando no rio, mas a imagem do santo ninguém deixa pra trás. O Zico está lá e Deus sabe o que faz. Chegou um mês antes da pior hora da história do Flamengo. Imaginem se não estivesse?
Essa é uma e várias crises. Para o Flamengo, principalmente, de marketing institucional. O mundo inteiro associará por uma ou duas semanas, o nome ao problema. A conduta do atleta, que ainda não está confirmada, é digna de roteiro de cinema. Guy Ritcher fez os dois primeiros e agora, a mídia, o delegado de Minas e claro, os principais personagens dessa trama, Samudio, Bruno, a Esposa, Macarrão, o Menor, o Carrasco e o Neném  interpretaram a terceira versão do mesmo filme. 
Hoje, andando pelas ruas do meu bairro, encontrei um ex-aluno - tricolor. Me viu, abriu um sorriso e veio me cumprimentar. "E ai, e o Bruno, hein..." e terminou a frase "...matador" continuando o caminho ao contrário do meu. Eu me senti confuso. O caso não representa o Flamengo, que tem sim, seu pacto com o capeta e o vil, todavia o tudo ao contrário também é RubroNegro. A força da criação, o amor, a fúria e a raça, o sacrifício, o acordo com  Xangô, São Judas Tadeu, com os espíritos superiores, tudo isso também é Flamengo. É o Yin e o Yang, o alfa e o ômega, o início e o fim. Não é a toa que os mais inteligentes e os menos educados, os mais ricos e os mais pobres, torcem pelo Flamengo.
Alguns metros mais tarde, em uma mercearia, escuto uma senhora conversar com uma outra, mais jovem. Comentavam as atrocidades que o Datena e o delegado contaram no Brasil Urgente do dia anterior, sobre a metodologia da possível execução. A mais velha disse suspirando que durmiu muito mal por conta de ficar imaginando o que tinham feito à garota. Imagino que muita gente está impressionada com o caso e sofre também pela espetacularização da coisa.
Uma vez mais, vemo a mais pura associação pela falsa moralidade e pela repressão - o casamento da mídia com a polícia, o poder repressor do estado - ambas estimulam a violência e depois a criticam como se estivessem livres dessa rede. O Datena ficou feliz por que conseguiu uma exclusiva para o programa e o delegado bem disposto, corado, o personagem do momento, estava exaltante nas minúcias da história que lhe contaram, quase babando de gozo como se disesse"mamãe, estou na TV" e ao mesmo tempo, em seu inconsciente, falando "ai, ai, quem dera eu pudesse matar dessa forma". O homem da Lei  julgava condenando e sendo sádico, contando e repetindo detalhes imprecionáveis, vistos apenas no cinema ou nas paginas sangrentas de publicações de fait-divers.
"Eles têm que sofrer", entrou um cliente na conversa. O cara ficou repetindo a mesma frase  na tentativa de esclarecer aos interlocutores, inclusive eu que esperava o troco, de que "na prisão, eles dão um jeito nele, né, né", tipo, como havia senhoras, não se podia falar que dar um jeito é bater + arrombar o porta-malas do sujeito (desculpem-me senhoritas!).
Pessoalmente, acredito que todas as pessoas são boas. Se parecem não ser, é por que estão com medo e se defendem dessa forma. Entretanto, existem alguns fatos na sociedade que embebedam as pessoas, deixando-as num mundo edílico que de vez em quando, toca a realidade. A vida de celebridade é para poucos, porém todo mundo quer sair do anonimato e ser reconhecido. Muitos querem ter o poder para poder. E aquilo que fica no meio disso tudo é o dinheiro, o triste vil metal da era virtual. Uma coisa que não vale nada, mas nos faz querer fazer tudo por ele, com ele e pra ele, tanto ficar grávida, quanto não reconhecer uma paternidade, tanto se isolar do mundo ou comprar o silêncio e a amizade de terceiros. Pura burrice, ambição, desvalorização da vida e hipervalorização da violência e da lei do mais forte.


Nenhum comentário: