quarta-feira, 31 de março de 2010

A futenovela em capítulos!

O brasileiro adora uma novela. E houve um tempo em que elas tinham seu horário reservado na programação. Mas como gostamos tanto, tanto que a mídia percebeu isso. Agora qualquer coisa vira uma. É na política (quantos meses durou "O mensalão"? ou, há quantas semanas assistimos "Arruda sem sorte"?); na dor - o caso Isabela Nardoni acabou de ter o ápice de sua segunda temporada; na economia com "A CRISE mundial" ou na saúde&sanitarismo, "Todos estamos gripados". 
Com o futebol nem se fala. A Band é o núcleo popular, com seus pseudo-especialistas jogando pra torcida o tempo todo. É uma novela do nível SBT, que só engana paulista, principalmente, o pessoal corintiano. A nova novela é "Como tirar Adriano da Copa em 90 dias" e estreiou essa semana a mais absurda de todas as mini-séries: "Se não tem Ronaldo, volta Roberto Carlos!". Aqui em Minas temos uma imprensa que insistentemente cria roteiros para seus craques (?) e seus tantos (?) times. Dignos de Zorra Total, uma piada que nem entra no núcleo de novelas do Galvão. Aliás, diga-se de passagem, o grande diretor, uma espécie de Daniel Filho do futebol - um homem que manda e flerta com várias instâncias, principalmente aquelas com contrato e as que são verdes. Seus bordões são como diálogos memoráveis - "Sai que é sua TafaRELL!". Dos que contracenam com ele também. Como esquecer "a regra é clara"?  Além de diretor, Bueno atua, uma das mais dramáticas e manjadas da futenovela brasileira - há muito tempo nem ganha o trófeu imprensa, o oscar da TV brasileira.
E, claro, ainda temos as geradoras de novelas para a elite do país. Geralmente, direitores e executivos em seus postos de "trabalho" e seus filhos (em casa), acompanham. Afinal, trabalhador brasileiro não consegue ver novela às 10 da manhã!
Daqui a pouco recomeça a grande novela, uma das mais queridas do povo brasileiro: A Copa do Mundo. Na última edição, a direção quis ousar, mas os exageiros foram notados pelo público, que passou a desconfiar do talento do jogator brasileiro. Rolou até morte! "Orgia, jogos e trambicagens", seria o longa estrelado pelo quarteto fantástico do WE / PS2 na Suiça. O roteiro para a vida de cada um  dessas estrelas (menos o Kaká) seria simples e copiaria um enredo típico da fábrica de sonhos brasileira:

Garoto nasce em comunidade com carência social. Sua família é desestruturada em termos. A mãe tem uma relação bastante protetora e enfrenta várias dificuldades em prol de seu filho. O pai, se for vivo e/ou biológico, poderá ter sonhos de enriquecimento fácil através do notável talento que o filho exibe. O que sulocionaria TODOS os problemas. O garoto sonha, entre outras coisas, dar uma casa para a mãe.

Garoto cresce, dá sorte e é agenciado por pessoas bastante espertas e de certa forma, desonestas - mas trabalham em prol do bem do menino e de sua família. Como um fenômeno, se transforma em celebridade nacional e, em seguida, internacional. É ovacionado pelos grandes jornais. Empresas e pessoas influentes se aproximam. Mulheres e aproveitadores, também. Seu talento é indiscutível, por isso, por mais que tente, ainda assim se sente relaxado se por acaso tiver que esticar a balada. Apesar das grandes noitadas, ainda consegue fazer grandes jogadas.   

Ganha tanto dinheiro em campanhas publicitárias, ganha tantos elogios por suas jogadas e gols, ganha tanto bajuladores que acaba acreditando que realmente é possível que seja um rei perdido, santo ou qualquer entidade com poder parecido. Acima de tudo, ganhou tanto dinheiro que não se preocupa mais com aquele vazio presente nos primeiros dias. A família, no Brasil, perde-se em brigas e intrigas. A ingenuidade e ignorância garantem dor ao elenco de cadjuvantes. Garoto já não se pertence e precisa cumprir com as obrigações de seus donos. Luta, mas não consegue. Sofrem, desabam no princípio do prazer, esbaldam-se. Porém, de repente o corpo dá uma envelhecida e já não consegue se livrar de um cansaço crônico e perturbador. Seu futebol cai e passa a ser vaiado em campo. Descobre sem querer que seu empresário (grande "pai" e amigo) na verdade, o negocia como se fosse uma mercadoria. Entra em depressão e se joga na night! Depois de um período errante, alguém aparece e lhe dá uma luz com uma ideia: negociar sua volta para o Brasil,  apesar de abrir mão de boa parte do contrato.

Aqui, com status de superstar em uma terra que venera superstars, se torna, novamente, membro do topo da cadeia social. Alheia a toda essa conversa, discretamente posicionada como testemunha ocular, a mídia começa a se incomodar com a não-exclusividade ou a própria, as entrevistas vazias ou simplesmente, o silêncio. O jogator percebe que também é mercadoria lucrativa e revestida de pele de cordeiro pelos "amigos" jornalistas. Com raiva, passa a faltar compromisso ou a negá-los veementemente. Os sádicos morcegos decretam que deve ser assado, frito, empanado e consumido de todas formas e em todas as posições. É oferecido aos torcespectadores como criatura bizarra, presa em globo e em turnê por planetas gramados, cercados de platéia e antenas. 

Querem acusá-lo de imoral em função de suas escolhas além dos campos! Esse é o manual do conservador terráqueo, utilizado em várias culturas, com diversas linguagens e teses memoráveis sobre seu comportamento emocional. Muito mais! É também do terráqueo aproveitador, aquele que simplesmente  se aperfeiçoa em pegar oportunidades de se dar bem no mundo conforme a maré, ora esquecendo, ora lembrando o que quer para justificar atitudes.

- Continua -

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