Cruzmaltinos desse planeta,
como eu já comentei, apesar de o Flamengo ser nosso maior rival - único que consegue chegar perto do nosso tamanho colossal - o meu clássico favorito é contra o Fluminense. Já contei as razões familiares que me impeliram a não gostar dos flores e ser vascaíno. Hoje, vou contar do meu clássico inesquecível, aquele que me fará ter certeza da superioridade vascaína até o dia de minha morte.
O dia era 3 de abril. Final da Taça Guanabara. Fazia sol e meu pai decidiu que nos levaria ao Maracanã. Meus irmãos, torcedores do Fluminense, já tinham acompanhado meu pai em outras partidas, mas eu, único vascaíno da família, estaria estreando no maior do mundo. E isso já trazia um problema de logística: como fazer? Soltar um garoto de 12 anos no meio de uma multidão e marcar pra encontrar depois do jogo não parecia ser boa ideia, por isso fui levado pro meio da torcida tricolor. "Meio" é maneira de dizer. Já naquela época, a torcida das três cores se reduzia à meia-dúzia de gatos pingados e conseguimos ficar isolados, bem longe das organizadas - se hoje elas são temidas, imagine nos anos 90. Mesmo assim, fui advertido várias vezes para não não expressar de maneira ostensiva minha torcida. Trato feito, bola rolando.
Eu sentia pela primeira vez aquela tensão de jogo no estádio, o silêncio barulhento de se assistir jogo sem ter narração. O time do Flu era forte - não era grande coisa, mas era forte - e vinha motivado, querendo impedir nosso tricampeonato. Nós éramos rápidos, mortais. Aos 20 minutos, gol do lateral-direito Pimentel. Dois minutos depois, Valdir - o matador da colina - ampliou. Meu primeiro ídolo no futebol, antes de Edmundo, antes de reconhecer o valor de Roberto, foi o bigodudo franzino que só faltou fazer chover no título de 93. Fim de primeiro tempo e eu devia ser a única pessoa sorrindo do lado de cá da arquibancada. Do outro lado, vascaínos faziam uma festa e me enchiam de inveja.
Logo no primeiro minuto da segunda etapa, Ézio - atacante mequetrefe que era chamado de super-herói pelos tricolores - descontou para eles. Meus irmãos se encheram de esperança, dizendo que o segundo tempo era deles e que tudo seria diferente. Mas não foi. A reação tricolor durou uns 10 minutos, até que o garoto Yan marcou o terceiro do Vasco. Dali pra frente, era só baile. Willian, baixinho do meio-campo vascaíno, acertava todos os lançamentos. Dener perdeu dois gols, um que seria uma pintura, com drible da vaca no defensor e tudo. O Vasco sobrava. Eu segurava o grito e ainda vi Valdir marcar seu segundo gol, sacramentando o placar. Vasco 4x1 Fluminense. Saímos antes do fim do jogo, para evitar as aglomerações, e só nos jornais do dia seguinte eu fui ver as fotos do time levantando a Taça do estado que não existe mais.
Exatos quinze dias depois, o moleque Dener morria num acidente de carro. Lembro de estar saindo pro colégio e ouvir a notícia na TV. Eu queria me convencer que a morte do craque era um mal-entendido, fruto do sono de uma segunda de manhã, mas não era.
Seriamos campeões cariocas em outro jogo contra o Flu, quando o cearense Jardel marcou duas vezes - e com os pés! Mas esse jogo já tinha um tom de tristeza, uma coisa de homenagem.
Meu Vasco x Fluminense inesquecível marca uma época infantil, quando éramos reis e sabíamos disso.
Um comentário:
Gosto mutio daquele Flu x vasco da semi-final da Copa União de 88. Vitória impiedosa do tricolor. O Washington esculachou:
http://www.youtube.com/watch?v=0Lt8cRF7yi0&feature=related
Naquela época, o vasco já entrava derrotado, pois amragava um retrospecto tão negativo com o Flu que chegava a ser folclórico. Hj o confronto equilibrou-se. Nos últimos jogos foram nove empates. O clássico mais monótono da atualidade.
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