Apesar da crença racional não permitir o crer no inexplicável, muitos mais coisas acontecem no mundo que acredita nossa vã filosofia. Um dia antes da estréia do Flamengo na Libertadores, um pouco amuado e com uma fé abalada pelas cinzas e pelas certezas da estatística, andava por ai, pelo mundo digital um tanto quanto desconfiado da exuberância do pavão Rubro-Negro. Entretanto, porém, todavia, não é que nessas andanças virtuais acabo por cruzar linha com um primo que é muito mais Flamengo do que eu. Dos que ocupam as primeiras fileiras da Brigada Evolucionária Rubro-Negra. Seu nome, Camarota, mas pode chamar de mãe Dinah!
O camarada teve a coragem de escrever no MSN que o Leo Moura faria o tento derradeiro. Disse, melhor, escreveu que o resultado seria 1 a 0 e que o Leo faria o gol. Fiquei ainda mais descrente de qualquer sucesso, muito mais depois desse palpite estranho. Poucos minutos depois, ele se corrigiu - e na hora eu ainda pensava que um empate já seria lucro. "Será 3 a zero, Leo Moura e mais dois do Adriano". Dei uma leve ignorada na validade daquele palpite, daquela intuição, já imaginando um otimismo Rubro-Negro exacerbado - algo que me lembra algumas feridas ainda não cicatrizadas, com nomes completamente ausentes da Enciclopédia Futebolesca, tais como, Santo André, Defensor e América do México. Será que não sacamos que a soberba nos faz menos preparados? Camarota, sacando meu pessimismo, me envia a seguinte mensagem: "Se a gente não acreditar que isso pode acontecer, não tem sido ficar torcendo". Ou seja, é preciso realmente ter fé no que deseja e, claro, no que vê. "O time é forte, ele irá vencer", talvez quisesse dizer. Porém, havia ido além: torceu para o Flamengo e para a sua previsão. Ele estava prevendo as coisas, realmente! Adivinhou e nos trouxe de volta em sua crença inabalável em algo que havíamos esquecido ser possível - gol de falta sem o Pet em campo, uma defesa que não toma gols, um Leo Moura correspondendo ao que havia prometido, Adriano sendo preciso na conclusão e no passe. Vágner Love, definitivamente, avisando que não pode bater pênaltis, nos livrando de ver isso em momentos decisivos.
Depois da vitória, novamente pela rede social, ele me disse: publica lá no Corneta que eu disse que o Leo Moura iria fazer o gol e que o Adriano faria dois. Na verdade, se não fosse pelo Love, eu teria acertado totalmente. Mas você viu o passe que o Adriano deu, pode ter valido como gol, não1?
Claro, cada vez fica mais nítido que é possível crer! Entretanto, particularmente, só poderei me surpreender se passarmos das oitavas. Afinal, não enfrentamos apenas o mata-a-mata latino americano, mas também, possíveis dois jogos das finais do carioca. Imaginem se o Mengo pega um time mexicano ou um boliviano nas alturas? Domingo joga o primeiro jogo contra o Botafogo, na quarta viaja sei lá quantas horas, joga, volta para o Brasil, enfrenta o segundo jogo - se ganha, festa, festa, festa... se perde, regride, regride. E três dias depois, o segundo jogo da oitavas.
Estou falando essas coisas por que doeu as eliminações passadas. Meu palpite sobrenatural vinha do Brasfoot em 2007. Em um pc bastante precário, joguei com o Mengo e acabei sendo campeão da Libertadores - vi claramente um sinal naquele título em plataforma tão adversa. Porém, com 5 minutos de jogo, Leo Moura faz um pênalti e levamos um a zero do Defensor do Uruguai... Renato Abreu se mostrou sangue ao levar nas costa o time no segundo jogo, mas não foi o suficiente.
No caso apimentado de 2008, o chilli não desceu direito até hoje. Po, fizemos 4 a 2 no México. Poderíamos perder por dois gols de diferença, tínhamos Íbson, um bicampeonato e a torcida lotando o estádio. Ao América de Cabanãs (quem?), restava fazer três gols no maior templo do futebol, diante do clube mais exaltado no país e campeão regional. Deu no que deu, no limite do desconhecido.
E ainda teve mais semiótica na coisa. Enquanto os Nardoni eram presos, o segundo gol mexicano acontecia em silêncio sem a voz do locutor, substituída pela narrativa jornalística/noveleira da prisão de dois pais culpados/inocentes (como todos nós). A flecha derradeira, muito mais do que lançada pelos pés dos delanteros hermanos, fora atirada pela sensação de potência de jogadores e membros da comissão técnica e diretoria. Devemos muito ao Joel, muito mesmo! Todavia, sua radical deliberação de deixar o Flamengo às vésperas de partida tão decisiva, atrapalhou a concentração e enganou o torcedor. Além, é claro, das festas de despedidas/comemoração que enviaram a campo, um time desatendo e soberbo.
Hoje, por sorte, Joel treina o Botafogo, Obina está no Atlético e o Flamengo não corre qualquer risco sério realmente. É o campeão a ser batido no carioca e no brasileiro. Na Libertadores, galopa por fora, um pouco sufocado pelo brilho corintiano. Porém, se uma das coisas sérias que faltava ao time nas campanhas anteriores era um camisa 10, um cara mais velho, experiente, que tivesse domínio internacional e que pudesse ser decisivo em partidas tensas psicologicamente, isso não falta mais. Temos o Pet. Além deste, de lambuja, sem esperar, conquistamos dos deuses, Adriano e Vágner Love. Finalmente, temos líderes, anciões e no auge, jovens promessas e um comandante que tenta trazer uma nova filosofia à própria cultura local e mundial do futebol.
3 comentários:
Olha, na minha modesta opinião, o Framengo é uma espécie de Botafogo da Libertadores. Sempre comemorando "épicas" vitórias contra timecos obscuros e no final já sabe... acontece uma daquelas patetices que só encontro paralelo nos jogos do fogão, só q em território nacional. E haja choro e comoção.
É que somos otimistas! Vivemos tudo isso ai mesmo, pelo menos estas posbbilidades. Vascaínos, tricolores já sentiram esse tipo de situação. O Fogão também, com a taça comenbol!
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