sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Minhas férias

Salve, salve, amigos corneteiros!

Chegou fevereiro e acabou meu descanso. Para iniciar o ano, nada como uma boa e velha redação sobre “minhas férias”. Assim, aproveito esse primeiro post do ano pra contar o que vi no Real Madri x Club Athletic Bilbao, no Santiago Bernabeu. A minha idéia era aproveitar a minha passagem pela capital espanhola e ver de perto todas aquelas maravilhas que a mídia diz existir no futebol do velho continente.

Pra começar, pensa que só aqui a bola rola em horas esdrúxulas? Que tal domingo, 21:30?! Pois era esse o horário do jogo. Pra comprar o ingresso pela internet a única dificuldade foi encontrar dois lugares juntos (lá você tem que escolher no momento da compra o seu assento, igual teatro), já que íamos eu e o meu cunhado e, apesar do ingresso para arquibancada custar entre 30 e 150 euros, 90% do estádio já estava ocupado.

Após vencer os corredores apertados e as intermináveis escadas do metrô de Madri, avistamos a fachada do estádio, decorada com a bandeira dos 20 times que fazem parte da primeira divisão espanhola (já imaginou a fachada de São Januário com as bandeiras do Flu, Fla e Fogo? Ou uma bandeira do Grêmio no Beira-Rio?).

Ainda do lado de fora, “aquecimento” com um sanduíche de lula e um Chopp (8 euros por 600 ou 700 ml de chopp!). Depois de subir as escadarias do estádio até o quinto andar (rampa? Elevador? “Acessibilidade” é uma palavra meio desconhecida por lá...), chegamos a tempo de ver as duas equipes entrando em campo ao som de uma ópera e aplausos da torcida. Um funcionário do clube nos indicou nossos assentos e nos dirigíamos para lá quando o sistema de auto-falante anunciou 1 minuto de silêncio pela morte do pai de um membro da assessoria de imprensa do Real. Para minha surpresa, imediatamente todos se puseram de pé e em silêncio, e assim permaneceram por longos 60 segundos, enquanto uma espécie de oração era entoada pelos auto-falantes. Mais aplausos e começa a partida.

Todos se sentam. Apenas uns 150/200 torcedores atrás de um dos gols, permanecem de pé e cantam durante o jogo todo (são os “Ultras”, espécie de torcida organizada de lá). Nessa noite de inverno, com a temperatura perto dos 10º C., o único calor que se sente nas arquibancadas vem dos aquecedores que ficam nas marquises (diga-se de passagem, nos sentimos em uma sessão de bronzeamento artificial, tal era o calor).

Sentados e sem esboçar maiores reações do que “oh!”, ou “ah!” (percebam, que não me refiro de modo algum a “UUUUUUUHHHHHHH!” à moda brasileira), os torcedores locais assistem ao Athletic marcar o seu primeiro gol. A crise parece instalar-se. O Real, que no meio de semana havia perdido em casa para o Barça pela Copa do Rei, era dominado pelo adversário e já perdia com menos de 20 minutos do primeiro tempo. Porém, nada de vaias ou coros de indignação. Apenas um assobio mostrava a insatisfação da arquibancada. Quando alguém passava disso (por exemplo, em uma saída atrapalhada do goleiro merengue, um senhor perto de mim se levantou e gritou: “COÑO, CASILLAS!”) todos o olham com uma mescla de reprovação e espanto.

Esse tratamento respeitoso, digno de artistas, que vem das arquibancadas, parece se refletir no comportamento dos jogadores. O jogo é quase sem faltas (o zagueiro Pepe não está em campo), e não vejo nenhum daqueles carrinhos na lateral de campo, pra evitar a saída da bola, que tanto se valoriza por aqui.

Mesmo pior em campo, o Real empata o jogo com Marcelo, ex-tricolor, e todos se levantam, aplaudem, gritam algo, e voltam a se sentar. As comemorações são individuais e contidas, nada de abraços ou comprimentos ao estranho sentado ao lado. A coisa chega a tal ponto que, no fim do primeiro tempo, um senhor algumas fileiras à minha frente tem uma espécie de ataque epilético, provavelmente mais pelo calor dos aquecedores do que pela tensão do jogo, e ninguém ajuda o seu amigo a socorrê-lo.

Fim do primeiro tempo, hora de uma pit-stop rápido (o banheiro é limpo, todos respeitam a fila e ninguém mija fora do lugar), e uma visita ao bar. Água, Cerveja sem álcool, refrigerante, batatas fritas, sanduíche de Jámon (presunto), e pipas (sementes de girassol torradas e salgadas, muito apreciadas por ali) formam o cardápio. Acabo demorando um pouco (ajudando a um casal de brasileiros, que estava tentando pedir uma “Cueca-cola”), e perco o gol de pênalti do Cristiano Ronaldo no início do segundo tempo.

Aqui vale a pena uma pausa. Em Porto Alegre eu trabalhava perto do Olímpico. Em Recife, moro a 1 Km da Ilha do Retiro. Estou acostumado a acompanhar a jogos, principalmente em dia de casa cheia, apenas pelos humores da torcida. Porém lá, mesmo estando dentro do estádio, não percebi nenhuma reação efusiva da torcida no momento do pênalti marcado, e nem mesmo depois quando ele foi convertido.

A equipe visitante, que havia sido melhor no primeiro tempo, sente o golpe. O argentino Bielsa, técnico do Athletic, tenta mudar o time e os jogadores substituídos (mesmo os da equipe adversária) são aplaudidos por todos. Mesmo assim, os anfitriões agora mandam no jogo e logo marcam o terceiro (novamente CR7, de pênalti). Os ultras gritam o nome do Mourinho e recebem a reprovação de grande parte do estádio em forma de assobio. O mesmo tratamento é dado ao juiz após uma decisão polêmica (nada de homenagens em coro a sua mãe).

O jogo caminha pro fim. Perto de mim, um grupo de amigos comemora compartilhando uma bota de vinho, e me dou conta de que em nenhum momento fomos revistados ou coisa do tipo. O Real ainda marca o quarto gol antes de nos levantarmos e sairmos do estádio, já aos 40 e tantos do segundo tempo.

No meio do ano, meu cunhado deve vir ao Brasil. Já prometi a ele que iremos a algum jogo, pra que ele conheça esse esporte tão diferente que se joga por aqui.

Um comentário:

Marcelo Braga disse...

Você vai levar seu cunhado é na final da Libertadores pra ver o Fluzão!!!

Abraços!

ST