sábado, 17 de dezembro de 2011

Acima da vitória


Cruzmaltinos desse planeta,

vou dizer publicamente algo que jamais externei, nem mesmo para meus amigos mais próximos. Alguma vezes eu me envergonhei do Vasco. Coincidência ou não, isso acontecia justamente no período mais vitorioso da nossa história. Sempre que eu via uma notícia de um cambalacho do Dr. Eurico Miranda envolvendo o Gigante, uma polêmica vazia que colocava em dúvida algo que nos era de direito, eu me envergonhava um pouquinho do Vasco. As derrotas, quando honradas, servem de lição, servem para o crescimento. Algumas vitórias merecem ser esquecidas. 
Quando o Roberto se candidatou à presidência do Vasco, eu o apoiei. Nem tanto pela competência, já que ele não tinha nenhuma experiência na administração de uma instituição do porte do Club de Regatas Vasco da Gama. Apoiei sobre tudo pelo que ele simbolizava. Simbolizava a moralização do club que eu aprendi a amar desde pequeno. 
Rodrigo Caetano veio a reboque, representando outro valor que me é caro: a profissionalização do esporte mais importante do Vasco. Nenhum dos dois foi perfeito. Mas conseguiram, ao longo desses 3 anos, não perder a carga simbólica que carregavam.
Alguns já comentam, aqui e no facebook: Ora! Mas dirigente não entra em campo. Não faz gol. Porém, quantas vezes vimos em uma notícia de contratação a frase: "O jogador tem ótimo relacionamento com Rodrigo Caetano...". Isso é o gol do Diretor de Futebol. 
Agora alguns elementos da torcida começam a "descobrir" podres do dirigente que sai. Infantilidade. Como na fábula da raposa e as uvas, desdenhamos aquilo que já não está mais em nosso alcance. 
Na vida, existem algumas situações extremas em que os valores podem ser relativizados. Com os filhos passando fome, talvez seja moralmente aceitável roubar. Num caso de vida ou morte, matar pode ser a única saída. Na vida é assim. No esporte, não. Nada no esporte justifica a desonestidade. A "malandragem", o "jeitinho brasileiro", fazem com que muitos dos que conheço se sintam repelidos. Não gostam do futebol porque "é essa coisa aí, cheia de armação". Nós mesmos, amantes do ludopédio, nos acostumamos a relativizar valores quando se trata do time da gente. Enquanto nós continuarmos a legitimar essa falácia, as coisas permanecerão iguais. A mudança cabe a todos nós.

***

Dito tudo isso, podemos discutir a sucessão de Rodrigo Caetano. Uma primeira possibilidade me assustava: simplesmente acabarem com o cargo. Dessa maneira, Mandarino concentraria todas as funções do departamento de futebol e teríamos mais uma vez um déspota no comando do esporte. Lamentável. Porém, com o passar do tempo e as novas notícias, o cenário alternativo foi se tornando ainda mais horripilante. Traríamos o bandido Marco Aurélio Cunha, ex-dirigente do São Paulo, para ocupar o cargo. Os mais ingênuos dirão:  "mas na gestão dele, o São Paulo ganhou tudo". Mas a que preço? O São Paulo se notabilizou pelas jogadas de bastidores, por tentar ludibriar os jogadores da base, por aliciar jogadores adversários durante os confrontos. Se é pra trazer um nome que vai me envergonhar, por favor, extinguam o cargo.



***

Muito se falou em oferecer o cargo à Juninho Pernambucano. Tentar aposentá-lo assim, antes do tempo, é de uma falta de educação tremenda. Que o Reizinho perdoe estes fariseus.

***

 O Pablo Barroso sugeriu Mauro Galvão, nos comentários. Apesar de ser um grande fã do zagueirão, não sei como ele se dá com a atual gestão, e seus resultados como gerente de futebol ainda são inconclusivos. Enfim, não rezo por esse nome ou aquele. Rezo pelo que for melhor pro Vasco.

4 comentários:

JTVascao disse...

El Rafo, quero dizer que discordo de tudo que você escreveu. Já dei minha opinião no post anterior, não vou repeti-la aqui, só ressalto que quem me conhece sabe que eu nunca achei o Rodrigo Caetano "a última Coca-Cola do deserto".
Em tempo: concordo com um ponto de seu texto: Mauro Galvão é meu ídolo no futebol, mas também acho que não dará certo como diretor de futebol.

Renato Saldanha disse...

Ao que tudo indica, O RC fez o mesmo que o Muricy no Flu. Forçou pra sair pq já tinha proposta de outro clube. Eu continuo na torcida pra que ele nao venha pras Laranjeiras. Nao só pq dispenso esse tipo de profissionalismo, mas pq, segundo informaçoes, ele já teria o salário acertado: R$360 mil por mês!!! é mais de 4 vezes o salário do nosso atual gerente Marcelo Teixeira (80 mil), e é até mais do que ganha o Rafael Sóbis (350 mil)! Até agora, a diretoria tem se mostrado resistente, apoiando o bom trabalho da dupla Sandro Lima e Marcelo Teixeira. Vamos aguardar e torcer.

Pablo Barroso disse...

Sinceramente, levanto e bato palmas para tudo o que foi dito (exceto a parte do Marco Aurélio Cunha, porque não tenho conhecimento suficiente para opinar).

Destaco duas frases nesse post: "As derrotas, quando honradas, servem de lição, servem para o crescimento. Algumas vitórias merecem ser esquecidas." - sensacional. E junto à esta: "Tentar aposentá-lo assim, antes do tempo, é de uma falta de educação tremenda." - e põe tremenda nisso!

Bom, é fato que também rezo para "o que for melhor para o Vasco", o problema é que lá no fundo da minha cabeça isso significa mandar o RC voltar. Também faço minhas as palavras de Júlio César, do blog do torcedor no globoesporte.com, ao comparar a saída de RC à de Dorival depois da série B.
Temo, e temo de forma veemente, que nossa caravela esteja perdendo o rumo, a corrente marítima que nos guiou novamente à vitória e que pensei que iria ter longa duração...

Marcelo Braga disse...

Excelente post, Saldanha. Só torço para que essa sensatez perdure por todo o ano de 2012.

PS: O Flu não tem necessidade alguma de contratar RC e ponto final.